Festival de Almada

Festival de Almada 2012

El Festival de Almada 2012 resiste a la crisis sin perder su esencia

Osvaldo Obregón, revista ADE (Espanha), Dezembro de 2012

O ano de 2012 revelou-se de grandes dificuldades para o Festival. Uma descida abrupta no orçamento (a subvenção da DGArtes foi cortada em 38%) levou a uma queda acentuada do número de sessões (que passaram de 77 para 47) e a uma consequente descida na afluência de público (registaram-se cerca de 17.000 espectadores, menos 3.000 do que na edição anterior). Houve ainda um notório aumento dos espaços de acolhimento em Lisboa, ao passo que Almada registou um movimento inverso. Espectáculos como Que faire? (Le retour) e Faust Fantasia foram apresentados também no Theatro Circo de Braga, no contexto da rede de teatros municipais Acto5, da qual o TMA era líder. Ao nível da programação, as produções estrangeiras excederam em número as portuguesas. Um reflexo da redução orçamental é o facto de a XXIX edição ser exclusivamente europeia. A capacidade de negociação com parceiros e instituições foi a resposta encontrada para a conjuntura desfavorável, no sentido de não pôr em causa a qualidade do Festival. A maioria dos espectáculos abordou questões que se encontravam na ordem do dia: “Talvez seja a edição que vai mais ao encontro da nossa vivência contemporânea”, escreveu o Jornal de Letras de 2 de Junho.


A idade de ouro, de Pedro Romero, coreografia de Israel Galván

Espectáculo de Honra

QUE FAZER? (O REGRESSO) Théâtre Dijon-Bourgogne

QUE FAZER O REGRESSO – Théâtre Dijon-Bourgogne

O TEATRO E A DEFESA DA CIDADANIA
Nos países civilizados (verbi gratia a Alemanha, a França, a Inglaterra, a França, etc.), desconhecer tudo o que diz respeito ao teatro, ou não acompanhar as suas actividades, é um motivo de constrangimento e de vergonha. Para muitos destes países, o índice de desenvolvimento teatral (vide o caso da Alemanha) é o principal indicador do desenvolvimento cultural. E, para se analisar o estado de saúde de uma cultura, é pelos números e pela análise do teatro, pela quantidade de teatros, pela sua riqueza e qualidade, que se começa.
Ao contrário, no nosso País, com uma das mais altas iliteracias da Europa, não ir ao teatro é uma atitude normal, que não merece a crítica de ninguém. Também só aqui e, ao contrário do que sucede noutros países, todas as manifestações “teatrais” que envolvam agentes do espectáculo, incluindo os produtos derivados do show business, são metidas no mesmo saco, numa forma amalgamada que não permite definir categorias, e que é instaladora de uma confusão que mais ainda aprofunda o fosso em que o teatro caiu na sociedade. O teatro di prosa, na acepção italiana, o teatro de arte, na acepção inglesa, russa e alemã, o teatro público, na acepção francesa, é misturado e avaliado com subprodutos de natureza para-teatral, e é empurrado cada vez mais para uma lógica de mercado que continua a alastrar na sociedade consumista em que vivemos. (…)
Ao Teatro de Arte cabe hoje a responsabilidade da defesa da cidadania, da democracia, e dos seus valores, numa luta que terá certamente sucessivos desfechos, derrotas e vitórias, e que se inscreve na História da Cultura.
Joaquim Benite, Le monde diplomatique, Julho de 2012


Espectáculos

A idade de ouro, de Pedro Romero. Coreografia de Israel Galván. A Negro Producciones – Espanha

Hábito, a partir de Fernando Pessoa. Encenação de Roberto Bacci e Anna Stigsgaard. Fondazione Pontedera Teatro – Itália

Dois de nós. Encenação de Ana Pepine e Paul Cimpoieru. Passe-Partout Theatre Company – Roménia

Que fazer? (o regresso), de Jean-Charles Massera e Benoît Lambert. Encenação de Benoît Lambert. Théâtre Dijon-Bourgogne – França

A controvérsia de Valladolid, de Jean-Claude Carrière. Encenação de João Mota. Comuna – Teatro de Pesquisa

O mercador de Veneza, de William Shakespeare. Encenação de Ricardo Pais. Co-produção: Companhia de Teatro de Almada / Teatro Nacional São João

La Valse, de Paulo Ribeiro. Filme de João Botelho. Companhia Nacional de Bailado

A sagração da Primavera. Coreografia de Olga Roriz. Companhia Nacional de Bailado

O senhor Ibrahim e as flores do Corão, de Eric-Emmanuel Schmitt. Encenação de Miguel Seabra. Teatro Meridional

A véspera do dia final. Texto e encenação de Yael Ronen. Schaubühne am Lehniner Platz – Alemanha

Fantasia Fausto, a partir de Goethe. Encenação e produção de Peter Stein – Itália

+-0 (um acampamento no subárctico), de Christoph Marthaler. Encenação de Christoph Marthaler. Unlimited Performing Arts – Dinamarca

Enquanto vivermos, de Pedro Gil e Romeu Costa Encenação de Pedro Gil. Co-produção: Culturgest / Anapereira.Pedrogil

Murmúrios dos muros, de Victoria Thierrée-Chaplin. Encenação de Victoria Thierrée-Chaplin. Compagnie des petites heures – França

Lisboa. Texto e encenação de Anna Stigsgaard. Fondazione Pontedera Teatro – Itália

Nora, de Henrik Ibsen. Encenação colectiva. Tg STAN – Bélgica

Para Louis de Funès, de Valère Novarina. Encenação de Philip Boulay. Wor(l)ds… Cie – França

O sonho da razão, a partir de vários autores. Encenação de Luis Miguel Cintra. Teatro da Cornucópia

Herodíades, de Giovanni Testori. Encenação de Jorge Silva Melo. Artistas Unidos


Cecília Guimarães

personalidade homenageada
Cecília Guimarães

Aos cinco anos Cecília Guimarães começou a frequentar as matinées domingueiras de teatro infantil: “Íamos, a minha irmã e eu, ver as histórias para crianças ao Teatro Nacional, e aqueles actores deslumbravam-me. Lembro-me de ver a Adelina Abrantes a fazer de avó da Maria Lalande, com quem vim a contracenar”. Ao deslumbramento que o teatro desde cedo lhe provocou (“Depois dessas matinées, eu chegava a casa e pegava numas cadeiras e fazia o meu próprio teatro”) ter-se-á juntado um inequívoco talento para as letras e as artes: “Costumo dizer que fui para o teatro porque não percebia nada de matemática!”.
Sarah Adamopoulos


Prémio Internacional de Jornalismo Carlos Porto

JOÃO CARNEIRO . Expresso

Para que servem os festivais? Muitos, e dos mais famosos, para coisas inconfessáveis, que melhor seria não serem feitas; outros, como o de Almada, para proporcionar momentos de grande prazer, diversão, confusão e agitação de ideias, apesar de cortes financeiros e abusos de poder que ninguém parece querer questionar realmente. Este ano é homenageada uma actriz, Cecília Guimarães, 59 anos de carreira. Como diz Peter Stein, no final de contas sempre tentou que o público ficasse com a sensação de que eram os actores quem tinha feito o espectáculo todo. Afinal, eles são sempre a face visível, o corpo presente do espectáculo.

João Carneiro, Expresso, 30 de Junho de 2012

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