Na sua XXXI edição o Festival de Almada registou um claro aumento dos espectáculos apresentados em Almada, que, ao contrário do que vinha acontecendo ao longo dos últimos anos, acolheu a maioria das sessões. Para além de uma forte presença da dramaturgia francesa e do ciclo ‘O novíssimo teatro argentino’, inicia-se ainda na XXXI edição o ciclo ‘O sentido dos Mestres’, em parceria com a Share Foundation. Em 2014 o formador foi Luis Miguel Cintra. Nesse ano o Festival recebeu também o Prémio da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, relativo ao ano anterior. A 24 de Julho o The Guardian publicava que “o respeito pelos criadores e pelo público faz do Festival de Almada um festival internacional com um foco local: apesar de grande parte dos espectáculos apresentados serem internacionais, o seu público é substancialmente local, sendo este um festival de Almada, para Almada”.
Espectáculo de Honra
E SE NOS METÊSSEMOS AO BARULHO?! Théâtre Dijon-Bourgogne
O Festival de Almada, com subvenções insuficientes, apresentou um conjunto de peças intrigantes dirigidas por criadores como Ivica Buljan e Romina Paula. O que é mais notável no Festival de Almada é o próprio facto de que possa existir. Funcionando com um orçamento que pouco ultrapassa o meio milhão de euros, parece impossível, dada a quantidade e a diversidade do trabalho apresentado, que possa sequer chegar a ser montado.
Andrew Haydon, The Guardian, 24 de Julho de 2014
Espectáculos
Orquídeas. Texto e encenação de Pippo Delbono. Emilia Romagna Teatro Fondazione – Itália
Branca de Neve, de Robert Walser. Encenação de António Aguiar. Companhia de Teatro Contemporânea
Canções i comentários. Texto e encenação de Rui Catalão. Maria Matos Teatro Municipal
E se nos metêssemos ao barulho?!, de vários autores. Encenação de Benoît Lambert. Théâtre Dijon-Bourgogne –França
Testamento. Criação colectiva. She She Pop – Alemanha
Cais Oeste, de Bernard-Marie Koltès. Encenação de Ivica Buljan. Companhia de Teatro de Almada
Almada de quarentena. Coordenação de João Brites. Encenação de Suzana Branco. Teatro O Bando
Um fio de jogo, de Carlos Tê. Encenação de Luisa Pinto. Cine-Teatro Constantino Nery
Círculo de transformação em espelho, de Annie Baker. Encenação de Marcos Barbosa. Teatro Oficina
Impalpável, a partir de Manuela Puig. Encenação de Ignacio de Santis e Sergio Calvo – Argentina
Al Pantalone, de Mário Botequilha. Encenação de Miguel Seabra. Teatro Meridional
Macbeth after Shakespeare, de Heiner Müller. Encenação de Ivica Buljan. Mini Teater – Eslovénia
O tempo todo inteiro. Texto e encenação de Romina Paula. Compañia El Silencio – Argentina
A verdade. Texto e encenação de Bernardo Cappa. Bernardo Cappa Compañia de Teatro – Argentina
A reunificação das duas Coreias. Texto e encenação de Joël Pommerat. Compagnie Louis Brouillard – França
Fauna. Texto e encenação de Romina Paula.
Compañia El Silencio – Argentina
Ode marítima, de Fernando Pessoa / Álvaro de Campos. Encenação de Natália Luiza. São Luiz Teatro
Municipal
A arquitectura da paz, de Evelyne de la Chenelière. Encenação e coreografia de Paula Vasconcelos. Pigeons Internacional – Canadá
O regime da ração, de Eusebio Calonge. Encenação de Paco de La Zaranda. La Zaranda – Espanha
Suado, criação colectiva. Encenação de Jorge Eiro – Argentina
Prisão de Ocaña, de María Josefa Canellada. Encenação de Ana Zamora. Nao d’Amores – Espanha
Os negros e os deuses do Norte. Texto e encenação de João Garcia Miguel. Companhia João Garcia Miguel
Rei Ubu, de Alfred Jarry. Encenação de Declan Donnellan. Cheek by Jowl – Inglaterra
Íon, de Eurípides. Encenação de Luis Miguel Cintra. Teatro da Cornucópia
Libretto, de Jacinto Lucas Pires. Coreografia de Alma Palacios. Maria Matos Teatro Municipal
Arraial Deluxe. Direcção de André Braga e Madalena Vitorino. Circolando
Paisagem desconhecida, de Josef Nadj. Centre Chorégraphique National d’Orléans – França
Alemanha. Texto e encenação de Nacho Ciatti – Argentina
As irmãs Macaluso. Texto e encenação de Emma Dante. Compagnia Sud Costa Occidentale – Itália
Os Lusíadas, de Luís de Camões. Concepção de António Fonseca. Sul – Associação Cultural e Artística
Luis Miguel Cintra
personalidade homenageada
1. Como encenador e actor, trabalhando textos do passado ou de tempos mais recentes, reconhecemos que há uma constelação de sentidos e de formas artísticas que mobiliza para nos fazer chegar uma interpretação (e não ‘transposição’) cénica dessa realidade literária.
2. Mesmo quando encena textos do cânone universal (mas que nem sempre são os mais conhecidos), a criação cénica, que ele propõe, não se acomoda a um saber ‘arrumado’; antes procura a desinquietação de uma sensibilidade interrogativa.
3. Como actor e encenador, com um percurso artístico exemplar no plano nacional e internacional, e com um merecido reconhecimento nos importantes prémios recebidos, Luis Miguel Cintra vem publicamente confirmando, com a sua arte, o que em tempos ele próprio escreveu sobre o teatro: “um instrumento privilegiado de busca de alguma verdade, um instrumento de pensamento e de prazer, uma maneira superior de estar com os outros”.
Maria Helena Serôd
Prémio Internacional de Jornalismo Carlos Porto
MIGUEL BRANCO
Festival de Almada. Um diário de bastidores que se faz teatro
O maior Festival de teatro do país assinala 30 anos, Luis Miguel Cintra é o grande homenageado da edição de 2014, que decorre de hoje a dia 18. Desculpa para acompanhar um espectáculo desde os primeiros passos até à estreia. Ivica Buljan é o encenador convidado para levar ao palco Cais Oeste, do francês Bernard-Marie Koltès. Para ver amanhã na sala principal do Teatro Municipal Joaquim Benite, às 21h30. A porta das traseiras nunca foi tão apetecível. é que aqui não é feita para escorraçar, nada disso. A penumbra habitual das saídas de emergência dá lugar a uma normalidade serena, ainda que haja gente virtuosa a passar por aqui. Estamos na entrada dos artistas e apresentamo-nos com o ar mais discreto que conseguimos ter, para que sejamos parte da equipa, para que o superpoder do invisibilidade nos assista. Desprovidos de indicações, deixamo-nos levar pelos actores, que aqui estão como guias, por entre o labirinto dos bastidores, o mesmo que fez parte da nossa rotina durante algumas semanas, onde criámos raízes e de boa vontade. Deixámos que o texto de Bernard-Marie Koltès – aqui encenado pelo croata Ivica Buljan – servisse de anfitrião e correu tudo a nosso favor; o fruto é o que se segue. Pode ver-lhe a cor por agora, amanhã é tempo de o provar, na sala principal, às 21h30.
Um Josef Nadj em estreia mundial – presente do Festival de Almada
Inês Nadais, Público, 16 de Maio.