Festival de Almada 2011
La crisis no rebaja la calidad en Almada
Carlos Gil Zamora, revista Artez, Agosto de 2011
Na sua XXVIII edição o Festival realizou 77 sessões, distribuídas por Almada, Lisboa e Porto. Perante um contexto de crise económica, a programação abordou essa preocupação. Como exemplos mais representativos, enumeram se Olho-te nos olhos, contexto de ofuscação social! (uma peça de René Pollesch, sobre a crise financeira) e Mission Drift (sobre o capitalismo norte-americano, pela companhia The TEAM). Como sempre, a par de espectáculos de carácter mais experimental, o Festival dedicou um ciclo à commedia dell’arte. Neste contexto, é de destacar a presença de Ferruccio Soleri, famoso actor italiano, sobretudo conhecido pela sua interpretação de Arlequim. Soleri levou a Almada, e ao Porto, a peça Retratti di Commedia dell’Arte. Mark Brown, jornalista do Herald Scotland, escreveu que Almada “faz teatro com a crise”. Com efeito, em 2011 o Ministério da Cultura diminuiu a sua subvenção ao Festival, fazendo com que a “presença de companhias de fora só fosse possível graças ao apoio de instituições estrangeiras, como o Goethe Institut ou o Institut Français”, como escreveu a revista francesa La Scène.
Espectáculo de Honra
O AVARENTO
Ensemble – Sociedade de Actores
Espectáculos
Círculos / ficções, texto e encenação de Joël Pommerat. Compagnie Louis Brouillard – França
Fábula bufa, a partir de Dario Fo. Encenação de Ciro Cesarano e Fabio Gorgolini. Teatro Picaro – Itália
Eu, Rodin, de Patrick Roegiers. Encenação de Mihai Maniutiu. Teatro Nacional Radu Stanca – Roménia
Chefe, a partir de Jonathan Swift e Guillermo Calderón. Encenação de Jaime Lorca. Viaje Inmovil – Chile
Amnesia, de Julia Baccar e Fadhel Jaïbi. Encenação de Fadhel Jaïbi. Familia Productions – Tunísia
O teatro cómico, de Carlo Goldoni. Encenação de Mario Mattia Giorgetti. Companhia de Teatro de Almada
Que fazer? (o regresso), de Jean-Charles Massera. Encenação de Benoît Lambert. Théâtre Dijon-Bourgogne – França
Retratos da commedia dell’arte, de Luigi Lunari. Encenação e produção de Ferruccio Soleri – Itália
Santa Joana dos matadouros, de Bertolt Brecht. Encenação de Bernard Sobel. Companhia de Teatro de Almada
Nacional, material: paisagem com argonautas. Criação colectiva. Encenação de Alfredo Martins. Ciclo Emergentes / Teatro Nacional D. Maria II
Eu sou o vento, de Jon Fosse. Encenação de Patrice Chéreau. Co-produção: Théâtre de la Ville (França) / Young Vic (Inglaterra)
Do amor, de Lars Nóren. Encenação de Solveig Nordlund. Companhia de Teatro de Almada
Dramoletes 2 – Da xenofobia, de Thomas Bernhard. cenação de Fernando Mora Ramos. Teatro da Rainha
Luís Madureira canta Friedrich Hollaender. Com Luís Madureira e Daniel Bernardes. São Luiz Teatro Municipal
Do maravilhoso mundo dos animais: os cordeiros, texto e encenação de Daniel Veronese. Histrion Teatro – Espanha
Regozijo terminal, de José Pedro Carrión e Valery Tellechea. Encenação de Jesús Castejon e José Pedro Carrión. Produção de José Pedro Carrión – Espanha
Brilharetes, de Antonio Tarantino. Encenação de João de Brito e Tiago Nogueira. Co-produção: Artistas Unidos / LAMA / Moloy
O judeu, a partir de Christopher Marlowe. Criação colectiva. Co-produção: Mundo Perfeito, Dood Paard e Maria Matos Teatro Municipal
“Ela”, de Jean Genet. Encenação de Luis Miguel Cintra. Teatro da Cornucópia
Olho-te nos olhos, contexto de ofuscação social! Texto e encenação de René Pollesch. Volksbühne am Rosa-Luxemburg-Platz – Alemanha
O avarento, de Molière. Encenação de Rogério de Carvalho. Ensemble – Sociedade de Actores
Overdrama, de Chris Thorpe. Encenação de Jorge Andrade. Mala voadora
Desvio da missão, criação colectiva. Encenação de Rachel Chavkin. The TEAM – EUA
A rainha louca, de Alexandre Delgado. Encenação de Joaquim Benite. Companhia de Teatro de Almada / CCB
Os corvos, de Josef Nadj. Centre Chorégraphique National d’Orléans – França
Uma bizarra salada, a partir de Karl Valentin. Encenação de Beatriz Batarda. São Luiz Teatro Municipal
Un certain songe. Une nuit d’été, de Richard Demarcy. Le Naïf Théâtre – França
Ferruccio Soleri
personalidade homenageada
Quem é que, durante mais de 50 anos, usou melhor do que ninguém a máscara de Arlequim? Ferruccio Soleri, o actor que, sob a orientação de Giorgio Strehler, a encarnou. Ao vestir esse figurino, Soleri renunciou a outros percursos de actor para dedicar a sua existência de forma total a esta personagem que, graças ao teatro, levou praticamente a todo o Mundo, derrubando barreiras linguísticas e geográficas, e divulgando-a junto de grandes e pequenos. Foi apreciado pelos políticos dignos desse nome, pelos grandes artistas de outras disciplinas do espectáculo, e estabeleceu a amizade entre povos diferentes, sendo portador de uma mensagem de paz e igualdade.
Mario Mattia Giorgetti
Prémio Internacional de Jornalismo Carlos Porto
ANA FERNÁNDEZ VALBUENA . revista Primer Acto
É SEMPRE EM FINAIS DE JUNHO, JÁ NO VERÃO…
Uma maré viva de mesas, cadeiras, tendas, flores, floreiras, instrumentos musicais, painéis, fotos, bancos, chapéus de sol, obras de arte, lâmpadas e focos, papel de cenário, tintas e pincéis… DESCARREGA, DESCARREGA, CONTINUA A DESCARREGAR
É PRECISO REINVENTAR O LUGAR
Não, não. Professora, aí não pode estacionar! Não posso… Céus, onde vou então estacionar? Tem de ser do outro lado, onde conseguir… arranjar lugar. Tudo cheio, tudo cheio, camiões a descarregar, ainda risco algum carro, mas onde é que vou estacionar?
Os homens de negro, formigas laboriosas, de um lado para o outro, a descarregar, a descarregar, A MONTAR
A Escola TRANSFIGURA-SE.
Os espaços redefinem-se. Não, não há estacionamento aí! Aí é a Esplanada. Esplanada – lugar onde gostaria de me sentar a ver os melros saltitar, ouvindo os pardais chilrear e sentindo, de vez em quando, um gato a espreitar, nessas noites mornas, nas noites em que a Escola se veste de Teatro. Nessas noites em que se pode ficar na escola.
A SONHAR