Na edição de 2010 registou-se um elevado número de sessões, que aumentou de 46 para 87. O número de locais de acolhimento aumentou igualmente, sendo que, mais uma vez, Lisboa abarcou a maioria das sessões (59%). É ainda de assinalar a colaboração, pela primeira vez, com o Teatro Nacional São João, no Porto, onde foram apresentadas duas sessões. A poesia e o texto dramático voltaram novamente a ganhar destaque nesta edição, sendo um dos eixos da programação. Segundo Joaquim Benite, em entrevista à revista Bons Vícius de Junho, “o texto é sempre o que prevalece; e o texto poético, pela sua complexidade, permite criar uma imagem cénica inovadora e estabelecer uma relação especial com o público”. Entre os espectáculos de maior destaque encontra-se a encenação de Claude Régy da Ode marítima, de Fernando Pessoa / Álvaro de Campos — espectáculo que tinha, aliás, obtido grande sucesso no Festival d’Avignon. A aposta na mistura de linguagens e na experimentação é ainda visível nesta edição. A título de exemplo temos o Fado coreografado, por Olga Roriz, e Um dia dancei SÓ dancei um dia, uma co-produção do TNDM II com o grupo Rosa74 Teatro, vencedor do ciclo Emergentes.
Espectáculo de Honra
DIÁLOGO DE UM CÃO COM O SEU DONO SOBRE A NECESSIDADE DE MORDER OS SEUS AMIGOS
Théâtre National de la Communauté Française
Espectáculos
Uma lição dos Aloés, de Athol Fugard. Encenação de José Peixoto. Teatro dos Aloés
Era uma vez um crocodilo verde, de Coralia Rodríguez. Produção de Coralia Rodriguez – Cuba
O avarento, de Molière. Encenação de Rogério de Carvalho. Co-produção: Ensemble / Teatro Nacional São João
Uma família portuguesa, de Filomena Oliveira e Miguel Real. Encenação de Cristina Carvalhal. Teatro Aberto
Um pouco de ternura, grande merda!. Coreografia de Dave Saint-Pierre. Compagnie Dave Saint-Pierre – Canadá
Concerto sinfónico. Direcção musical de Osvaldo Ferreira. Orquestra Sinfónica Portuguesa
Diálogo de um cão com o seu dono sobre a necessidade de morder os seus amigos, de Jean-Marie Piemme. Encenação de Philippe Sireul. Théâtre National de la Communauté Française – Bélgica
A música, de Marguerite Duras. Encenação de Solveig Nordlund. Co-produção: CCB / Ambar Filmes
Carmen. Eunice. Maria: Cantos no palco de Almada, de vários poetas portugueses. Recital com Carmen Dolores, Eunice Muñoz e Maria Barroso. Companhia de Teatro de Almada
Ode marítima, de Fernando Pessoa / Álvaro de Campos. Encenação de Claude Régy. Les Ateliers Contemporains – França
Um dia dancei SÓ dancei um dia, de Daniel Gorjão. Encenação de Daniel Gorjão. Co-produção: TNDM II / Rosa74 Teatro
O amor, a partir de Laura Munson. Encenação de Tatiana Frolova. Teatro Knam – Rússia
As formigas, de Boris Vian. Encenação de Rogério de Carvalho. Núcleo de Teatro da Fundação Sindika Dokolo
A balada do amor e da morte do alferes Cristóvão Rilke, de Victor Ullmann e Façade, de William Walton. Com Luís Madureira, Teresa Gafeira e João Paulo Santos
As 10 canções de Camões, de Luís de Camões. Com Luís Miguel Cintra
Matar Shakespeare. Texto e encenação de Tatiana Frolova. Teatro Knam – Rússia
Manual de irradiação irádio-acção, de Álvaro Garcia de Zuñiga. Encenação de Arnaud Churin e Álvaro Garcia de Zuñiga. Co-produção: Plano9 / Blalalab
O ginjal, ou o sonho das cerejas, a partir de Tchecov. Encenação de Mónica Calle. Casa Conveniente
Dança da morte / Danza de la muerte (tradição popular). Encenação de Ana Zamora. Co-produção: Nao d’Amores (Espanha) e Teatro da Cornucópia
Jogo limpo, de François Bégaudeau. Encenação de Américo Silva. Teatro da Terra
Aldina Duarte por Olga Roriz. Coreografia de Olga Roriz. São Luiz Teatro Municipal
Casimiro e Carolina, de Ödön von Horváth. Encenação de Emmanuel Demarcy-Mota. Théâtre de la Ville – França
Yourcenar / Cavafy. de Marguerite Yourcenar e Constantin Cavafy. Encenação de Jean-Claude Feugnet. Les Visiteurs du Soir – França
Um jantar muito original, a partir de Fernando Pessoa. Encenação de Alex Riener. Dielaemmer – Áustria
O quarto (escuro), a partir de Alex Roubaud. Encenação de Jules Binot. Athyra Compagnie – França
Cabaret Hamlet, a partir de Shakespeare. Encenação de Matthias Langhoff. Théâtre Dijon-Bourgogne – França
Letra M, de Johannes von Saaz e João Vieira. Encenação de Fernando Mora Ramos. Co-produção: Teatro Nacional São João / Teatro da Rainha
Um precipício no mar, de Simon Stephens. Encenação de Jorge Silva Melo. Artistas Unidos
Fala da criada dos Noailles. Texto e encenação de Jorge Silva Melo. Artistas Unidos
Todos los grandes gobiernos han evitado el teatro íntimo. Texto e encenação de Daniel Veronese. Teatro Metropolitan – Argentina
Maria Barroso
personalidade homenageada
Homenageamos Maria Barroso — que terminou o curso do Conservatório (com 18 valores) em 1943, o ano em que nasci — não só porque é uma grande actriz (e se não voltou a fazer teatro, fez, felizmente, filmes que permitem às novas gerações conhecê-la), mas também porque a sua acção de combate corajoso contra a ditadura constitui um exemplo para os jovens de hoje. Como divulgadora da poesia, Maria Barroso deu voz aos poetas da Resistência, a uma geração de grandes criadores que pensava que a Arte não podia subtrair-se das causas sociais. O Festival de Almada sente-se orgulhoso de contribuir para saldar, através desta homenagem, uma parte da dívida que todos temos para com as generosas mulheres e os generosos homens que nos mostraram os caminhos da liberdade.
Joaquim Benite