Festival de Almada 2001
Um Festival de Teatro que colocou Almada no mapa mundial do teatro F. Paulouro Neves, Jornal do Fundão, 6 de Julho de 2001
Em 2001 o Festival de Almada tornou a apresentar 47 sessões. A revista Visão de 1 de Junho apontava que “a deslocalização de alguns dos mais fortes e marcantes espectáculos do Festival para duas salas lisboetas é a prova de que Almada precisa de um novo espaço. No entanto, é curioso notar que o público habitué do Festival não vê com bons olhos o fim do Palco Grande”. No que à programação diz respeito, em 2001 apresentam-se cinco peças em estreia, um número recorde até à data. Por outro lado, o teatro português reforçou a sua participação, ao passo que a participação estrangeira cruzou, uma vez mais, companhias de grande reputação internacional com nomes menos conhecidos. Foi ainda realizado um espectáculo no terreno do futuro Teatro Municipal Joaquim Benite: A loucura da normalidade, de Mónica Calle, uma espécie de ‘primeira pedra’ na construção da nova casa da CTA.
Espectáculo de Honra
Espectáculos
I due gemelli veneziani, de Carlo Goldoni. Encenação de Luca Ronconi. Piccolo Teatro di Milano – Itália
Todos índios. Texto e encenação de Arne Sierens e Alain Platel. Les Ballets C. de la B. – Bélgica
Os quatro quartetos, de T. S. Elliot. Encenação e produção de Edward Fox – Grã-Bretanha
Arcipreste, de Alfonso Martínez Toledo. Encenação de Rafael Alvarez, “El Brujo”. Producciones El Brujo – Espanha
Le balcon, de Jean Genet. Encenação de Jean Boillot. Théâtre à Spirale – França
Hamlet – a lesson, de Boris Pasternak. Encenação de Theodoros Terzopoulos. Attis Theatre – Grécia
Teatre total. Texto e encenação de Quim Masferrer. Teatre de Guerrila – Espanha
Mira’m, de Marta Carrasco. Coreografia de Marta Carrasco e Pep Bou. Companhia Marta Carrasco – Espanha
Le petit Arlequin, de Didier Gallas. Encenação de Laurent Poitrenaux. Ensemble Lidonnes – França
Melodrama, de Filipe Miguez. Encenação de Enrique Diaz. A Companhia dos Actores – Brasil
Nuestra Señora de las nubes, de Aristides Vargas. Encenação de Aristides Vargas. Malayerba – Equador
A guerra das sogras. Texto e encenação de Gilberto Mendes. Teatro Gungu – Moçambique
Veles e vents. Xarxa Teatre – Espanha
A loucura da normalidade, de Arno Gruen e Stig Dagerman. Encenação de Mónica Calle. Casa Conveniente
O gelo na mesa, de Virgílio Martinho. Encenação de Miguel Moreira. Útero
O gato Lucas e a tia Zizi. Texto e encenação de Carlos J. Pessoa. Teatro da Garagem
Esse tal alguém, de Teresa Rita Lopes. Encenação de Rogério Carvalho. Companhia de Teatro de Almada
Guerras do Alecrim e da Manjerona, de António José da Silva. Encenação de Paulo Matos. Arsenal d’Arte
A escola dos maridos, de Molière. Encenação de Mário Barradas. Teatro das Beiras
O desassossego, de Bernardo Soares. Encenação de Graça Afonso Cruz. Companhia de Teatro de Sintra
História do soldado, de Stravinsky / Ramuz. Encenação de Luis Miguel Cintra. Teatro da Cornucópia
Ubu na Comuna, a partir de Alfred Jarry. Encenação de João Mota. A Comuna
Um auto para Jerusalém, de Mário Cesariny. Encenação de Miguel Moreira. Útero
Leituras encenadas de peças de Arne Sierens. Artistas Unidos
Arlequim, servidor de dois amos, de Carlo Goldoni. Encenação de Alberto Nason. Le Théâtre des Asphodéles – França
Exiliadas, de vários autores. Direcção de Ricardo Iniesta. Atalaya – Espanha
Breve itinerário pela poesia portuguesa com Nuno Vieira de Almeida e Manuela de Freitas
Self(ish). Coreografia de João Fiadeiro. RE.AL
O último Verão, de Pedro Paixão. Encenação de Miguel Moreira. Útero
Venda do pão, de Bertolt Brecht. Encenação de Pierre Etienne Heymann. Centro Dramático de Évora
Delírios dell’Arte, de Mário Botequilha. Encenação de Miguel Seabra. Teatro Meridional
2001 meninas ao espaço. Texto e encenação de Carlos Paulo. A Comuna
«Estou Farto»
Ao fim de 18 anos de edição e de três protocolos com o Estado, o Festival de Almada volta à estaca zero. Terá de concorrer a uma verba de 180 mil contos a dividir por 45 eventos do género, na área do Teatro, como também na Dança e Música. Fundador e promotor do Festival que tem “invadido” nos últimos anos as salas lisboetas, com propostas teatrais estrangeiras, Benite sente que este é “mais um sinal”. O primeiro já o teve. O pagamento da verba para este ano esteve em vias de chegar com três meses de atraso. A primeira parte – 30.382 contos de um total de 43.350 contos, a pagar pelo Instituto Português das Artes do Espectáculo (IPAE) – ficou prometida para a última quarta-feira e chegou; depois de Benite ter marcado uma conferência de imprensa para dia 6, para denunciar os atrasos. O Festival recebe ainda 24 mil contos da autarquia de Almada, 9.500 contos de mecenas, e consegue fazer 14.500 contos de receitas de bilheteira.
(…)
Se tiver mais dinheiro faço um Festival com mais qualidade. Se tiver menos vou ter de fazer um esforço suplementar e arranjar dinheiro nalgum sítio. O risco depende da nossa vontade. Sejamos claros: acha que, em Portugal, posso ter empresas a pagarem-me o Festival? O Festival d’Avignon teve, no ano passado, 1,5 milhões de contos, dos quais 78 mil contos eram de mecenas; o que significa 5,2%. Em Almada tenho dos mecenas uma verba superior a 9%; mais do que Avignon em termos proporcionais. Pensa que é fácil arranjar mecenas? Há outra coisa que me irrita: o discurso do mecenato é sempre feito aos artistas, quando devia ser dirigido aos mecenas. A independência artística depende da diversificação das fontes de financiamento, mas não significa a substituição do Estado. (…) Acha que, ao fim de 18 edições, o Estado ainda nos deve “perguntar”? Ainda não tem confiança? Não vê que temos, todos os anos, uma boa programação? O mesmo Estado que não é capaz de organizar o Teatro Nacional exige-nos garantias? Provas? (…) Neste País quando se tenta fazer alguma coisa só se encontra obstáculos. Não se tenta potenciar o que existe. (…) O que leva as pessoas a pensarem assim? Será a inveja? Que é um dos elementos da alma portuguesa! Será a vontade de fazer outros projectos em alternativa? (…) Não consigo fazer ideia. Mas penso que o Dr. Fernando Luís Sampaio [director do IPAE], que organizou o Festival Mergulhos no Futuro, sabe o que é um festival; sabe quanto custa; está informado. Sasportes não era um ministro qualquer. Organizou durante muito tempo o ACARTE. Talvez outros ministros anteriores não soubessem muito bem o que é um festival. Aqueles sabem. Não apoiam porque não querem.
Joaquim Benite em entrevista ao Expresso,
por Cristina Margato, Julho de 2001
Casa do Artista (Armando Cortez, fundador)
personalidade homenageada
A homenagem à Casa do Artista será, naturalmente, recebida com o mais consensual regozijo por toda a classe teatral e, certamente, pelo público. Num País em que as iniciativas de carácter cultural marcadas pela solidariedade e pela generosidade não abundam, a criação da Casa do Artista é um sinal de maturidade dos homens de teatro, e da importância do papel que o teatro tem na sociedade, expresso pelos numerosos apoios que a iniciativa recebeu. Ao homenagear a Casa do Artista homenageamos, claro, todos os que, primeiro, sonharam esta obra e todos os que se lhe juntaram para que ela pudesse concretizar-se. De certo modo, interpretamos um sentimento geral do teatro português.