Festival de Almada 1988
Triunfo da tradição Carlos Porto, Diário de Lisboa, 15 de Julho de 1988
A V edição da Festa de Teatro de Almada registou uma subida no número de sessões, que se fixaram nas 34, distribuídas pelo palco da Boca do Vento, pela Incrível Almadense, pelo antigo Teatro Municipal de Almada (TMA) e pelo Pátio Prior do Crato, animando ainda as ruas de Almada Velha com teatro de rua. Foram sete as companhias Deus os fez… Deus os juntou, encenação de Mário Viegas. Carlos Porto, Diário de Lisboa, 15 de Julho de 1988. Aquí no se rinde, encenação de Alain Mébirouk. estrangeiras a marcar presença nesta edição, vindas dos EUA, da Bélgica, da Polónia, de Itália, de Espanha e de França. Começa também a fixar-se a data do Festival (sempre de 4 a 18 de Julho), de modo a que as companhias, portuguesas e estrangeiras, possam preparar-se com antecedência para participarem no evento.
Espectáculo de Honra
Espectáculos
O tigre, de Murray Schisgall. Le Globe – França
O Triunfo de Arlequim, de Dima Vezzani. Encenação de Carlo Boso. Scalzacani – Itália
História da beleza. Texto e encenação de Kasimiers Grochmalski. Teatro Maya – Polónia
As criadas, de Jean Genet. Encenação de Jaroslaw Bielski. La Gotera – Espanha
Toreros, majas y otras zarandajas. Criação colectiva. Teatro Margen – Espanha
Terezka. Margo Lee Sherman – Estados Unidos
Aquí no se rinde. Encenação de Alain Mébirouk. Théâtre du Banlieu – Bélgica
Oração, de Arrabal. Encenação de Carlos Avilez. Teatro Experimental de Cascais
Dona Rosinha, a solteira, de Federico García Lorca. Encenação de Joaquim Benite. Companhia de Teatro de Almada
Os velhos não devem namorar, de Castelao. Encenação de Blanco Gil. Teatro Ibérico
O desconcerto, de Jaime Salazar Sampaio. Encenação de Augusto Tello. Teatro de Portalegre
Memórias de guerra, de vários autores. Encenação de Armando Caldas. Primeiro Acto
Antígona, de Sófocles/Brecht. Encenação de Júlio Cardoso. Seiva Trupe
Comunidade, de Luiz Pacheco. Encenação de José Carretas. Produções Cândido Ferreira
Médico à força, de Molière. Encenação de Carlos César. Teatro de Animação de Setúbal
M, o moderado, de Adamov. Encenação de Luís Varela. Centro Cultural de Évora
Deus os fez… Deus os juntou, a partir de Tchecov. Encenação de Mário Viegas. Produção de Manuela de Freitas / Mário Viegas
Aliás, este ano se algum embaraço organizativo se registou, deveu-se quase exclusivamente à exiguidade dos espaços relativamente ao interesse que o espectáculo suscitava. Aconteceu sobretudo com os espectáculos apresentados na Incrível Almadense. Isto para não falar na sobrelotação da Boca do Vento.
Maria Helena Serôdio, O Diário, 22 de Julho 1988
O TRIUNFO DO NOVO
Este ano passei um domingo inteiro em Almada. Assisti a «Memórias de Guerra» de Ruzzante e Brecht pelo «Primeiro Acto» participei num encontro com Jaime Salazar Sampaio, depois segui para o Pátio onde «De Pequenino e que se Torce o Pepino» de Virgílio Martinho, representado pela «Secundaria, do Pragal e finalmente vi «Story of Beauty, pelos polacos. Um dia em cheio! Houve gente que não foi a praia, à bola ou passear e o dedicou ao teatro. Foi comovedor.
E um «amor ardente» pelo teatro da parte da Companhia de Teatro de Almada/Grupo de Campolide, que motiva o êxito do «festival» e que neutraliza a «má fortuna» e alguns «erros (seus)».
Nos tempos que vão correndo ir a Almada e uma experiência exaltante. Todo o «blasement» (desgosto, enervamento, insensibilidade, enfraquecimento) desaparecera, por uns tempos, perante a força cultural e social que são as «festas de teatro» estivais em Almada.
Carlos Porto, Jornal de Letras, 26 de Julho de 1988
Luiz Francisco Rebello
personalidade homenageada
Há mais de 40 anos que Luiz Francisco Rebello está presente na cena portuguesa. A sua primeira peça representada data de 1947, montada pelo Teatro-Estúdio do Salitre. De então para cá, quer no plano da dramaturgia, quer no plano ensaístico, não parou nunca. Pode e deve dizer-se que muitos são os anos e muitas as obras que escreveu sobre a surpreendente expressão humana que é o teatro. Mas com o dramaturgo, o ensaísta e o historiador, temos também nele o jurista. Nesta qualidade deve salientar-se que há muitos anos desenvolve uma luta tenaz a favor de um teatro reconhecido e realmente apoiado pelos poderes públicos, a favor da dignidade social dos seus artistas e técnicos – e pelos direitos de autoria dos que duma forma ou doutra criam o espectáculo.