Festival de Almada 2017
El festival de Almada, gran cita del mapa teatral europeo Juan Ignacio García Garzón, ABC
Em 2017 a companhia inglesa 1927 e o grupo belga Peeping Tom vieram pela primeira vez a Almada: criadores já conhecidos do Festival, como Christoph Marthaler e Pippo Delbono, apresentaram igualmente alguns dos espectáculos mais marcantes. A encenadora e actriz norueguesa Juni Dahr, que regressou ao Festival com uma Hedda Gabler apresentada na Casa da Cerca (Espectáculo de Honra), foi a responsável pela quarta edição do programa de formação ‘O sentido dos Mestres’. Em 2017 o ciclo ‘Novíssimo Teatro’ foi dedicado a Portugal, com a apresentação de cinco espectáculos de jovens criadores portugueses (dois dos quais em estreia absoluta), e João Carneiro moderou o ‘Encontro da Cerca’ dedicado à nova criação nacional. O diário espanhol ABC considerou que o Festival ofereceu “uma variada e interessante programação de carácter internacional”, ao passo que o El Mundo destacou que os espectáculos de pequeno formato foram “ao encontro do público”. O diário italiano Il Manifesto considerou o Festival de Almada “a manifestação cultural mais importante do Verão português”.
Espectáculo de Honra
HEDDA GABLER Visjoner Teater
Espectáculos
Apre – melodrama burlesco, de Pierre Guillois. Compagnie le Fils du Grand Réseau – França
Hedda Gabler, de Henrik Ibsen. Encenação de Juni Dahr. Visjoner Teater – Noruega
Operários, de Miguel Moreira e Romeu Runa. Útero – Associação Cultural
Ela diz. Texto e encenação de Carlos J. Pessoa. Teatro da Garagem
Bovary, a partir de Gustave Flaubert. Texto e encenação de Tiago Rodrigues. Théâtre de la Bastille – França
Moçambique. Texto e encenação de Jorge Andrade. mala voadora
Svaboda, criação colectiva. Dramaturgia e encenação de Bernardo Cappa. Compañia Teatral Bernardo Cappa – Argentina
A perna esquerda de Tchaikovski. Texto e direcção de Tiago Rodrigues. Companhia Nacional de Bailado
Rumor e alvoradas, criação colectiva. Raoul Collectif – Bélgica
Topografia, criação colectiva. Teatro da Cidade
Karl Valentin Kabarett, de Karl Valentin. Encenação de Ricardo Neves-Neves. Teatro do Eléctrico
Ricardo III está proibido, de Matei Visniec. Encenação de Razvan Muresan. Teatrul National Cluj-Napoca – Roménia
Mãe, direcção de Gabriela Carrizo. Peeping Tom – Bélgica
Tempestade, a partir de William Shakespeare. Encenação de João Garcia Miguel. Companhia João Garcia Miguel
História do Cerco de Lisboa, a partir de José Saramago. Encenação de Ignacio García. Co-produção: A Comp. de Teatro do Algarve, Comp. de Teatro de Almada, Comp. de Teatro de Braga e Teatro dos Aloés
Primeira imagem. Concepção e encenação de John Romão. Escola Superior de Teatro e Cinema
Golem. Texto e encenação de Suzanne Andrade. 1927 – Inglaterra
Neverland. Coreografia de Tamir Ginz. Kamea Dance Company – Israel
Por nascer uma puta não acaba a Primavera, a partir de Gabriel García Márquez. Encenação de Alexandre Tavares e Anouschka Freitas
Cânticos de barbearia. Texto e direcção musical de Carlos Tê. Encenação de Luisa Pinto. Narrativa ensaio – AC
A morte do príncipe, a partir de Fernando Pessoa, Heiner Müller e William Shakespeare. Encenação de Ricardo Boléo
Evangelho, texto e encenação de Pippo Delbono. Compagnia Pippo Delbono – Itália
Diário de uma assistente de sala, de Mariano Clemente e Victoria Casellas. Encenação de Gonzalo Facundo López – Argentina
Uma ilha flutuante, a partir de Eugène Labiche. Encenação de Christoph Marthaler. Co-produção: Theater Basel / Théâtre Vidy-Lausanne – Suíça
Gente comum, Texto e encenação de Gianina Carbunariu. Teatrul National Radu Stanca – Roménia
Sonho de uma noite de Verão, a partir de Shakespeare. Encenação de Marta Pazos. Voadora – Espanha
António Lagarto
personalidade homenageada
O que para mim torna identificável a linguagem estética de António Lagarto no quadro do teatro em Portugal é uma espécie de ‘exterioridade’ que lhe advém de dois lugares distintos. Por um lado, é um dos ‘estrangeirados’ que, depois do 25 de Abril de 1974, regressou ao País com formação e vivências londrinas. Por outro lado, há na sua obra plástica uma como que não-interioridade, uma objectividade (no sentido expressionista), que, ainda quando revela sonho, memória ou algum tipo de subjectividade (dramática), sublinha mais o ponto de vista do criador que interpreta do que o do artesão ao serviço de uma encenação ou coreografia que se recusa a ilustrar.
Eugénia Vasques
Escapemos durante alguns dias da fúria de Avignon, e vamos a Lisboa, mais exactamente à cidade do outro lado do rio, Almada, para saborear a calma e a sobriedade da 34.ª edição do seu Festival. Algumas semanas após o incêndio imenso que dizimou famílias e destruiu aldeias e florestas nas regiões montanhosas do centro do país, dando origem a três dias de luto nacional, a maior “festa do teatro” portuguesa é encarada com furor por essa cidade fiel ao seu Festival, como também pelos amantes de teatro lisboetas e da região circundante. Vinte e seis espectáculos programados, dos quais cinco são estreias e onze são produções portuguesas, numerosas graças ao ciclo dedicado ao “novíssimo teatro português”, sem contar com os espectáculos de rua, os concertos ao ar livre, uma instalação mirífica (O jardim de Narciso) do cenógrafo e figurinista António Lagarto, a quem também foi dedicada uma exposição, workshops e conferências. Como é costume, os criadores internacionais de renome apresentam-se conjuntamente com as companhias locais, tanto do teatro independente como as jovens companhias, e as peças, políticas ou experimentais, misturam-se com a dança contemporânea, a comédia, o vaudeville e o teatro de objectos. O Festival arranca com uma nota agridoce, dada por Rodrigo Francisco, o seu director: após um discurso breve e seco sobre os cortes nas subvenções governamentais, o público abandona-se à hilaridade de Apre!, um espectáculo de humor, sem texto, que obteve este ano o Prémio Molière para Melhor Comédia.