Festival de Almada 1991
O segredo de Almada: ar livre Carlos Porto, Jornal de Letras, 23 de Julho de 1991
A VIII edição do Festival de Almada foi vista como constituindo um salto qualitativo. As sessões decorreram no antigo TMA, no Largo Conde Ferreira, na Incrível Almadense, na Boca do Vento e no Palácio da Cerca. Este ano, o Festival teve a particularidade de incluir três estreias absolutas: Lusos da ribalta e Mozart e Salieri, pela Companhia de Teatro de Almada, e Ele há coisas do diabo, pelo Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett. Nesta edição, “o Festival começa a afirmar de forma mais assertiva a sua caracterização dentro do panorama e da geografia dos festivais nacionais”, segundo escreve Eugénia Vasques no Expresso de 29 de Junho. Com efeito, é reconhecida abertamente a contribuição do Festival de Almada para a reestruturação do tecido urbano, como é referido num artigo do Expresso, a 27 de Julho: “a importância do Festival reflecte-se paralelamente na promoção e recuperação do património local. Para além da requalificação da zona antiga da cidade, as necessidades criadas pelo Festival de Almada suscitaram já, por exemplo, a criação de locais de lazer (o Bar-Galeria de Exposições da Cerca), o melhoramento das zonas necessárias para o alargamento do número de espaços disponíveis (a recuperação e ajardinamento do Pátio da Boca do Vento) e, sobretudo, a aquisição e recuperação do Palácio da Cerca”. Outro aspecto relevante do Festival é o objectivo de constante evolução e adaptação programática aos gostos moventes dos públicos. Uma vez que o Festival de Almada atrai uma quantidade considerável de jovens, as necessidades artísticas e estéticas diversificam-se, traduzindo-se numa progressiva inclusão de espectáculos de teor mais experimental e de manifestações de carácter formativo (por exemplo, a realização de um workshop sobre Teatro de Rua).
Espectáculo de Honra
Espectáculos
Au diable, Arlequin!, de Dima Vezzani. Encenação de Dima Vezzani e Alberto Nasson. Scalzacani – Itália
Yerma, de Federico García Lorca. Encenação de Etelvino Vázquez. Teatro del Norte – Espanha
Historia de una cara, de Eduardo Pavlovski. Encenação de Miguel Esposito. Teatro Studio de Gijon – Espanha
Ahola no es de leil, de Alfonso Sastre. Encenação de Arturo Castro. Teatro Margen – Espanha
Le malade repenti, de Gilbert Gilet. Encenação de Jean Louis Daumont. Théâtre de l’Arte – França
Lazarillo de Tormes, de Fernando Fernán Gomez. Encenação de Rafael Alvarez e Juan Viadas. Producciones El Brujo – Espanha
Dances of patience and desolation. Teatret Cantabile 2 – Dinamarca
A vida do grande D. Quixote de La Mancha, de António José da Silva. Encenação de José Oliveira Barata. Bonifrates
Mozart e Salieri, de Pushkin. Encenação de Joaquim Benite. Companhia de Teatro de Almada
Simplement compliqué, de Thomas Bernhard. Encenação de Yvon Lapous. Théâtre de la Chamaille – França
Lusos da ribalta, texto colectivo. Encenação de Ramón Perez. Companhia de Teatro de Almada
Viviriato, de vários autores. Encenação de João Brites. O Bando
Pressentimentos amores, a partir de Tchecov. Encenação de Armando Caldas. Intervalo – Grupo de Teatro
Harpa céltica e voz. Myrdhain – França
Liberdade em Bremen, de Fassbinder. Encenação de Hélder Costa. A Barraca
Ele há coisas do diabo, a partir de Gil Vicente. Encenação de José Peixoto. Teatro da Malaposta
Ode marítima, de Fernando Pessoa. Encenação e produção de João Grosso
Terra, de Abel Neves. Encenação de João Mota. A Comuna
Festival da Otite 2, de Carlos Paulo. Encenação de João Mota. A Comuna
Já agora não esqueçamos um dos grandes trunfos deste Festival, mesmo quando sopra uma nortada forte: o ar livre, a noite cheia de estrelas, a diferença de estar, a diferença de ser, deste modo, espectador. Não será esse um dos segredos do êxito deste festival?
Carlos Porto, Jornal de Letras, 23 de Julho de 1991
À zona velha da cidade chega, mais uma vez, a oitava consecutiva, o teatro de vários países. As novas realizações de um Festival vocacionado para o Verão e para o ar livre que nasceu “sem apoios nem ambições” e actualmente dá cartas e atrai o grande público.
Diário de Notícias, 26 de Junho de 1991
Costa Ferreira
personalidade homenageada
Vem a propósito transcrever o que muito recentemente me disse um encenador: “Há 20 anos criticávamos Costa Ferreira, e hoje penso que ele é que tinha razão; que era o mais moderno de todos. E hoje ainda o é!”. Começa a fazer-se justiça. Já em tempos Antonino Solmer homenageou o mestre e o homem de teatro publicamente. E é agora esta Festa do Teatro que lhe é dedicada. Mas a melhor homenagem que se lhe pode prestar hoje é representá-lo. E o futuro próximo se encarregará de mostrar que Costa Ferreira continua indispensável ao teatro português.
António Gomes Marques