Festival de Almada 1999
Um teatro elitista para todos Rui Ferreira e Sousa, Público, 18 de Julho de 1999
Em 1999 a parceria com Lisboa alargou-se, estendendo-se ao Teatro do Bairro Alto e ao Centro Cultural de Belém, para além do Teatro da Trindade. O Festival de Almada associou-se ainda à Culturgest. A presença de importantes companhias internacionais contribuiu decisivamente para o envolvimento de instituições como o Centro Cultural de Belém e a Culturgest, bem como para o início de um protocolo de três anos com o Ministério da Cultura, que passa a convencionar o Festival através do Instituto Português das Artes do Espectáculo. A programação deste ano surge fortemente marcada pela presença de companhias da América do Sul e da zona mediterrânica. É também de ressaltar a presença de uma companhia proveniente de Macau, no ano da transição deste território para a administração chinesa. Parece evidente que a XVI edição do Festival de Almada foi o culminar de um esforço de institucionalização, visível no aumento de orçamento, no alargamento de parcerias, no crescente número de personalidades nacionais e estrangeiras envolvidas nas actividades paralelas, e no reconhecimento do Festival como um evento convencionado por parte do Ministério da Cultura. No entanto, o evento continua a manter uma certa “artesanalidade”, ou seja, uma “recusa de uma certa funcionarização da estrutura organizativa”, como escreveu Eugénia Vasques no Expresso de 24 de Julho. Prova disso é o facto de o Festival se apoiar numa atitude de fidelidade e cumplicidade, tanto para com o público, como para com as próprias companhias.
Espectáculo de Honra
Espectáculos
Arlecchino, servitore di due padroni, de Carlo Goldoni. Encenação de Giorgio Strehler. Piccolo Teatro di Milano – Itália
La grande magia, de Eduardo de Filippo. Encenação de Giorgio Strehler. Piccolo Teatro di Milano – Itália
Com’è la notte?… Chiara. Encenação de Gino Zampieri. Piccolo Teatro di Milano – Itália
Tot esperant Godot, de Samuel Beckett. Encenação de Lluis Pasqual. Teatre Lliure – Espanha
Pedro y el capitán, de Mario Benedetti. Encenação de Francisco Carrillo. Teatro del Noctámbulo – Espanha
Maure à Venise. Encenação de Carlo Boso. Compagnie d’Alain Bertrand – França
La grama vita di Joe Lobotomi. Encenação de Mauro Mozzani e Rolando Tarquini. Teatro dei Manicomics – Itália
Gemelos, de Agota Kristof. Criação colectiva. La Troppa – Chile
Madame Curie, de Mira Michalowska. Encenação de Jorge Curi. El Galpón – Uruguai
Auto da paixão. Texto e encenação de Romero Andrade Lima. Circo Branco – Brasil
Las historias que se cuentam los hermanos siameses, de Luis Mario Moncada. Encenação de Martín Acosta. Teatro de Arena – México
Como nasce um cabra da peste, de Altimar Pimentel. Encenação de Eliézer Filho. Agitada Gang – Brasil
Dos personas diferentes dicen hace buen tiempo, de Raymond Carver. Encenação de Rafael Spregelburd e Andrea Garrote. El Patrón Vazquez – Argentina
Soirée particulière, de Fadhel Jaïbi. Encenação de Fadhel Jaïbi. Familia Productions – Tunísia
À la recherche d’Aïda, de Fadhel Jaïbi. Encenação de Fadhel Jaïbi. Familia Productions – Tunísia
Ubu déchaîné. Texto e encenação de Richard Demarcy. Sanza Théâtre – Camarões
Good morning my city, texto colectivo. Encenação de Hiu Koc Kun. Kiu Kok – Macau
Giovanni d’Annunzio. Produção de Tomasella. Calvisi / Franco di Francescantonio – Itália
Mattis et les oiseaux, de Tapei Besas. Encenação de Adel Hakim. Griffon Théâtre – França
Waking thoughts, de Jonathan Weightman. Tagus Theatre – Grã-Bretanha
Sarruga 3 actos. Sarruga Produccions – Espanha
A sombra de Mart, de Stig Dagerman. Encenação de Luis Assis. Luis Assis / Teatro da Cornucópia
A bela e o monstro. Encenação de Stephen Johnston. Teatro ao Largo
QFWFQ, a partir de Italo Calvino. Encenação de Miguel Seabra. Teatro Meridional
As tranquilas aventuras do diálogo, de Teresa Rita Lopes. Encenação de José Louro. A Companhia de Teatro do Algarve
Um dia inesquecível, de Ettore Scola. Encenação de Hélder Costa. A Barraca
As variações de Goldberg, de Georges Tabori. Encenação de João Mota. A Comuna
Dois homens, de Franz Kafka. Encenação de Luís Gaspar e José Maria Vieira Mendes. Artistas Unidos
Crónica feminina, de Jorge Listopad. Encenação de Joaquim Benite e Teresa Gafeira. Companhia de Teatro
de Almada
O retábulo de Mestre Pedro, de Manuel de Falla. Encenação de José Ramalho. Marionetas de Lisboa
Memorial do Convento, de José Saramago. Encenação de Joaquim Benite. Companhia de Teatro de Almada e Companhia de Teatro de Sintra. Teatro da Trindade – Inatel
É o mar, Alfonsina, é o mar!. Texto, encenação e produção de Tiago Torres da Silva
Uma história da dúvida. Coreografia de Clara Andermatt. Companhia Clara Andermatt
A boda dos pequenos burgueses, de Bertolt Brecht. Encenação de José Peixoto. Teatro da Malaposta
Garretismos, de vários autores. Encenação de José Mascarenhas. Teatro de Portalegre
Actornauta
Tomai lá do O’Neill, a partir de Alexandre O’Neill. Encenação de João de Melo Alvim. Companhia de Teatro de Sintra
Kerosène, de Ned Jam Hadj e Guy Hermal. Encenação de Alfredo Brito e Cristina Bizarro. Teatro da Trindade
Pessoalmente 4 poetas. Maria do Céu Guerra
Benji, de Claire Dowie. Encenação de Pedro Assis
C’era una volta… un lago dei cigni. La Terra Nuova – Itália
War. Direcção de Arturo Castro. Teatro Margen – Espanha
[O Palco Grande] que enche até transbordar, até se ouvir o Vítor [Gonçalves], com o seu sorriso, pedir por favor, ainda vejo nessa oitava fila espaço para talvez mais duas ou três pessoas. Tenham paciência, juntem-se só mais um bocadinho. E, de novo, há uma cumplicidade que os une e apertam-se um pouco mais. Depois, as luzes apagam-se, o silêncio acende-se e o milagre surge. É a hora do teatro. A hora de soltar sonhos, gargalhadas, denúncias, comoções, na multiplicidade inventiva de encenadores, actores, técnicos de luz e som, fracturando barreiras de linguagem, provando mais uma vez que há um entendimento possível subjacente à condição humana e que talvez só a Arte, um dia, consegue.
Maria Rosa Colaço, Cadernos, 15 Dezembro de 1999
Luciana Stegagno Picchio
personalidade homenageada
Luciana Stegagno Picchio ocupa um lugar especial na galeria de lusitanistas. Desde logo, pelas suas centenas de artigos e pelos muitos livros que, na sua bibliografia de cerca de 500 títulos, dedicou à literatura e ao teatro portugueses. Mas também porque tem sido constante o seu trabalho de estudo e divulgação da língua e da literatura portuguesas, em traduções, recensões críticas, notas de apresentação e prefácios. Lusitanista e universalista, a sua actividade de investigação abrange todas as literaturas de língua portuguesa, a literatura espanhola, e também a linguística. A justíssima homenagem prestada pelo Festival de Almada é uma forma, não de minorar a dívida que o País lhe tem, mas simplesmente de reconhecê-la.