Em entrevista a Cristina Margato para o Diário de Notícias de 17 de Junho, Joaquim Benite salientou a “qualidade excepcional dos espectáculos estrangeiros” da XVII edição do Festival, bem como a maior “selectividade no que respeita às produções portuguesas”. O evento continua a ser um sucesso de público: “O público do Festival cresce cerca de trinta por cento por ano, as assinaturas foram todas vendidas antecipadamente, a modalidade jovens/estudantes esgotou-se há quinze dias”, escrevia Elisabete França no Diário de Notícias de 4 de Julho. Este foi ainda o ano de publicação do estudo sobre os públicos do Festival de Almada, pelo Observatório das Actividades Culturais. A publicação conclui que metade do público do Festival é oriunda da Margem Sul, havendo contudo uma procura crescente dos habitantes de Lisboa (25%) e dos seus arredores, com destaque para os concelhos do norte da capital (12,5%). Conclui-se igualmente que 65% das pessoas que se deslocaram aos espectáculos durante a edição de 1999 tinham 30 anos ou menos, o que demonstra a forte adesão do público jovem.
Espectáculo de Honra
Espectáculos
En attendant Godot, de Samuel Beckett. Encenação de Luc Bondy. Théâtre de Vidy-Lausanne – Suíça
Daaalí. Texto e encenação de Albert Boadella. Els Joglars – Espanha
Quién teme a Virginia Woolf?, de Edward Albee. Encenação de Adolfo Marsillach. Petruska Producciones – Espanha
Corrida. Texto e encenação de Wladyslaw Znorko. Cosmos Kolej – França
De profundis, de Oscar Wilde. Encenação de Vanessa Redgrave. Moving Theatre – Grã-Bretanha
Magnificat, de Fernando Pessoa. Encenação de Victor de Oliveira e Philippe Leroy. Compagnie de
l’Anima – França
L’enclos, de Armand Gatti. Encenação de Michel Simonot. Théâtre de l’Archipel – França
Eden Paradise!. Texto e encenação de Hassen Mouadhen. Théâtre National de Tunisie – Tunísia
Babilónia 1 e 2. Texto e encenação de Carlos Góngora. Axioma – Espanha
Carmen, de Bizet. Encenação de Luca Bruni. La Terra Nuova – Itália
Museu do Pau Preto, de António Tomaz. Encenação de Miguel Hurst. Museu do Pau Preto – Angola/Cabo Verde/Guiné
Larga a minha cabeça, malandro. Texto e encenação de Gilberto Mendes. Teatro Gungu – Moçambique
Ejecutor 14, de Adel Hakim. Encenação de Hector Noguera. Teatro Camino – Chile
Cafundó – onde o vento faz a curva, de Amaury Tangaré. Encenação de Regina Duarte. Companhia de
Artes do Brasil – Brasil
Monnaie de singes. Texto e encenação de Didier Gallas. Ensemble Lidonnes – França
Scavengers (Thottikal). Texto e encenação de Thakazhi Sivansankara Pillai. Abhinaya Theatre – Índia
Mira’m, de Marta Carrasco. Coreografia de Marta Carrasco e Pep Bou. Companhia Marta Carrasco – Espanha
QFWFQ, a partir de Italo Calvino. Encenação de Miguel Seabra. Teatro Meridional
Volver, de André Martins. Encenação de Águeda Sena e Tiago Rodrigues. Suburbe
O boticário, de Carlo Goldoni. Encenação de Ana Luísa Guimarães. Teatro Nacional São João
A relíquia, de António Vitorino de Almeida, a partir de Eça de Queiroz. Encenação de Hélder Costa. A Barraca
O navio dos negros, de Herman Melville. Encenação de Jorge Silva Melo. Artistas Unidos
A varanda do Frangipani, de Mia Couto. Encenação de Miguel Seabra e Alvaro Lavín. Teatro Meridional
Delírios e outras flores. Texto e encenação de Paulo Matos. Arsenal d’Arte
O homem do acaso, de Yasmina Reza. Encenação de José Mora Ramos. Teatro do Tejo
O bar da meia-noite, de Fiama Hasse Pais Brandão. Encenação de Mónica Calle. Contra Costa Produções
Nada do outro mundo, de António Cabrita. Encenação de Sylvie Rocha e Manuel Wiborg. Actores Produtores Associados
Programa Bach. De François Joël Thiollier – França
Diários de Esperancinha, de Maria Rosa Colaço. Encenação de Teresa Gafeira. Companhia de Teatro de Almada
Recital Emily Dickinson. Manuela de Freitas / Luis Miguel Cintra
Corin flies British flag at festival
Corin Redgrave será o representante britânico da próxima edição do Festival de Almada, com o espectáculo De Profundis, de Oscar Wilde. O Festival, que vai na sua 17ª edição, apresenta normalmente espectáculos de França, Espanha, Itália, Brasil, Chile, bem como o talento local e as peças produzidas pela Companhia de Teatro de Almada. O Festival de Almada estabeleceu-se como o principal Festival de teatro do país, uma vez que as iniciativas do Estado para criar festivais de teatro não atingiram o mesmo espírito, público, e patamares artísticos. Dado o aumento da procura de bilhetes, os organizadores do Festival têm acordado apresentações com os principais teatros lisboetas, nomeadamente o Teatro da Trindade.
Catherine Cooper, The Stage, 29 de Junho de 2000.
O FESTIVAL NA IMPRENSA
A estratégia de cobertura mediática do Festival de Almada apresenta uma lógica de sofisticação progressiva, associada nomeadamente à maior importância dos artigos assinados, como os de crítica, ou os de crónicas, ou entrevistas, que propiciam o protagonismo dos participantes do Festival e, por conseguinte, do próprio Festival. Fundamentalmente, traduz-se assim um reconhecimento progressivo do Festival de Almada. Da leitura da imprensa, em particular dos artigos de maior desenvolvimento e com uma forte componente de análise e de reflexão sobre o Festival, podem extrair-se algumas ideias que de certa forma são transversais à informação jornalística produzida durante as 16 edições do Festival. São ideias ou questões levantadas pela imprensa de forma persistente e que configuram algumas dimensões fundamentais da imagem e do impacto mediático do Festival. Provavelmente a dimensão mais explorada e que chega a ser apontada como característica distintiva do Festival de Almada, relativamente a outros eventos congéneres em Portugal, é a tónica posta no Festival como evento social, como evento de consumo de teatro, como festa. É talvez este o aspecto que mais cedo se impôs na imprensa como mais-valia do evento.
PRÁTICAS CULTURAIS CONSOLIDADAS
A participação associativa e a prática de teatro revelam ser duas práticas importantes para a constituição dos públicos do Festival, concorrendo uma e outra para a forte adesão ou constância na frequência do evento; sem o Festival, porém, poder-se-ia perguntar se aquelas práticas teriam, no concelho de Almada, a mesma vivacidade que têm e, mais, se o contingente de espectadores com consumos culturais menos consolidados não perderiam (supondo a inexistência do Festival) o que parece ser a sua oportunidade de alargar esses consumos.
HÁBITOS E MOTIVAÇÕES DE FREQUÊNCIA
O público estabelece laços de familiaridade de diferentes graus com o Festival: as práticas de forte adesão têm uma expressão significativa, o que traduz a importância da fidelização nos hábitos de frequência do evento. Estes espectadores podem categorizar-se nos seguintes termos:
a) os incondicionais, que possuem Assinatura e assistiram a mais de seis espectáculos nos anos anteriores;
b) os adeptos, que adquiriram a Assinatura e assistiram a menos de seis espectáculos, bem como os que não têm Assinatura mas assistiram a mais de seis espectáculos;
c) os flutuantes, que não têm Assinatura e assistiram a menos de seis espectáculos;
d) os estreantes, que nunca estiveram no Festival, tendo adquirido, ou não, Assinatura.
Os incondicionais e os adeptos somam 44% da totalidade do público, e são estes espectadores que asseguram ao Festival uma base consistente de apoio: mas é necessariamente pelos espectadores estreantes e flutuantes que passa a renovação dos públicos do Festival.
In Públicos do Festival de Almada, Observatório das Actividades
Culturais, VVAA, Julho de 2000.
Nuno Teotónio Pereira
personalidade homenageada
Ao escolher, este ano, uma figura respeitada da arquitectura para a sua homenagem anual, o Festival de Almada mais não faz do que chamar a atenção para uma actividade que ocupa um lugar central na desejada modernização do teatro português. Nuno Teotónio Pereira foi escolhido, antes de mais, por ser um arquitecto de prestígio que sempre mostrou um gosto e um carinho especiais pelo teatro. Mas também por outras razões: pelo exemplo da sua acção cívica, pelo desassombro e verticalidade que sempre marcaram a sua vida intelectual e o seu comportamento enquanto cidadão. Nos dias em que não se faziam teatros (a ditadura preferia fechá-los ou mantê-los reservados para o serviço da sua propaganda) Nuno Teotónio Pereira foi uma figura central no processo que levou à criação de um dos primeiros – e hoje histórico – espaços teatrais alternativos de Lisboa: o Primeiro Acto, de Algés. Generosamente, com um enorme carinho, pôs nesse projecto modesto todo o seu talento artístico e todo o seu rigor profissional. Por isso lhe estamos gratos, os que temos memória.