38º Festival AlmadaActos Complementares

Uma árvore com espectadores à volta

EXPOSIÇÃO 50 ANOS COMPANHIA DE TEATRO DE ALMADA

Se, em anos anteriores, celebrámos actores, autores, espectáculos e demais criativos, nesta edição vamos festejar uma data singular: os cinquenta anos da Companhia de Teatro de Almada.

No pátio do Teatro Azul está uma árvore que o Joaquim Benite quis plantar, simbolicamente, no meio da construção. Numa galeria em redor, os espectadores circulam formando uma geografia que serve de metáfora. Apesar da distância, que devemos manter, se algo podemos abraçar sem restrições é uma árvore, e com ela celebrar uma marca inigualável do teatro em Almada: o seu público. Uma árvore com espectadores à volta é um percurso que nasce também de uns gráficos rabiscados à pressa, que só a memória da Teresa Gafeira, como fundadora, poderia sugerir. Riscos imprecisos que definiram uma vereda para a floresta das estatísticas. Três árvores (partes) tem esta exposição, numa cenografia que balança entre o artesanal e o erudito, condição cada dia mais urgente pela sobrevivência da arte do teatro.

1 – O Público: a homenagem ao espectador, a outra metade do fenómeno teatral, que em Almada é um exemplo de vitalidade e amor pela arte do teatro;
2 – Um mapa de raízes que nos leva às mais de trezentas cidades, vilas e aldeias por onde a Companhia levou o teatro;
3 – Uma frondosa árvore composta pela universalidade e pluralidade dos criadores e companhias que, ao longo dos já 38 anos do Festival de Almada, de algum modo, contaminaram o imaginário do teatro português.

As estatísticas invadem e manipulam as nossas vidas. Na aparente frieza dos diagramas pode esconder-se uma qualquer poética, tal como na complexidade visual e gráfica do brilhante Manuel Lima. No Mundo em transformação, quando tudo está ligado a tudo o que existe, muda-se árvore para rede na forma de classificar e organizar tudo.

Árvores, desenhos, pessoas baloiçam agora numa teia de cordas elásticas, estão impregnadas de memórias e emoções e desenham incríveis teias que se transformam em árvores, precisamente como aquela que está no pátio do Teatro Azul. Talvez, no futuro, para celebrar outro tempo, alguém lhe faça um discurso, como Gaev faz ao velho armário no Cerejal de Tchekhov, saudando a força e a sobrevivência do TEATRO.

José Manuel Castanheira

José Manuel Castanheira, doutorado em Cenografia e Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, onde é professor desde 1982, tem uma actividade multifacetada, sobretudo em cenografia do espectáculo, cenografia de exposições para museologia, arquitectura teatral e pintura. Realizou mais de 300 cenografias em 15 países, onde também dirigiu acções de formação, estágios e seminários. Desde 2017 integra os júris de doutoramento em Estudos Teatrais da Universidade Sorbonne Nouvelle (Paris). É membro da Real Academia de Belas-Artes de Espanha e da Academia de Artes Cénicas de Espanha, e coordenador Europeu do projecto TELA – Teatros da América Latina. O ano passado recebeu o prémio SPA para a melhor cenografia do ano com Reinar Depois de Morrer, uma co-produção CTA e Companhia Nacional de Teatro Clássico (Espanha). É autor e co-autor de vários livros. O início da sua fecunda colaboração com a Companhia de Teatro de Almada remonta a 1985, data em que a CTA começou o processo de criação de Menina Júlia, de Strindberg, com encenação de Rogério de Carvalho, e que estrearia em 1986. A sua obra cenográfica é toda ela marcada por um olhar poético e sensível sobre todas as coisas humanamente observáveis.


ALMADA

Foyer do Teatro Municipal Joaquim Benite

02 a 25 JUL


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