O sonho de J. Anjos cansados que carregam outros anjos
Instalação de José Manuel Castanheira
Para que serve o teatro? E a cenografia? Para que serve tudo isso? De onde vêm as ideias? Ainda podemos reinventar a geografia? No palco, na mente, tal como no Mundo, ainda haverá regiões por explorar? Estas são algumas das inquietações que prevalecem no inesperado confinamento. Após a publicação dos livros Desenhar nuvens (2014) e O tempo das cerejas (2016), continuo a desenvolver o tema a que chamei “Manual de sobrevivência de um cenógrafo”. Esta exposição/instalação inscreve-se no contexto destas inquietações e resulta também da revisitação de um vídeo apresentado na Quadrienal de Praga em 2015.
J. é um cenógrafo em viagem pela casa, cidade, café, hotel, campo, floresta, estação de comboios, aeroportos, outros lugares de espera, no Mundo, agora universo da teia do teatro, qual máquina de fazer sonhar, onde há uma varanda com um leque de cordas atadas, que indiciam possível transporte para as nuvens. No sonho, J. faz viagens a pé, de bicicleta, de carro, de comboio, de avião, de barco para ilhas desertas, sentado num penhasco a observar planícies ou na praia a copiar a luz da lua. Anjo artesanal, em fuga pelo terraço de um prédio, trepa pela copa das árvores mais altas e, no sótão do teatro, sobe por uma escada de madeira em caracol onde está escrito “Acesso ao Paraíso”. O salão vazio parece infinito, as paredes são espelhos. Cansado de tanto andar, desfaz-se da roupa e das asas, nu deita-se no chão do palco, abre a tampa onde antigamente estava o ponto do teatro, e põe-se a espreitar para alguma coisa minúscula que está lá em baixo. É ele próprio a ter ideias, sentado na pedra da paciência.
José Manuel Castanheira
José Manuel Castanheira é arquitecto, cenógrafo e pintor. Doutor em Cenografia e Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, onde é professor desde 1982, tem uma actividade multifacetada, sobretudo em cenografia do espectáculo, cenografia de exposições para museologia, arquitectura teatral e pintura. Realizou mais de 300 cenografias em 15 países. Dirigiu acções de formação, estágios e seminários em universidades e outras instituições, em Portugal e muitos outros países, como Espanha, Bélgica, França, República Checa, Grécia, Itália, Cuba, Suíça ou Brasil. Desde 2017 integra os júris de doutoramento em Estudos Teatrais da Universidade Sorbonne Nouvelle (Paris). Em 2010 foi eleito membro da Real Academia de Belas-Artes de Espanha. É membro fundador da Associação Portuguesa de Cenografia (de que foi o Presidente eleito entre 2012 e 2016). É o coordenador para a Europa do projecto TELA – Teatros da América Latina. É autor dos livros Castanheira – Cenografia, Desenhar nuvens, Viriato Rey, O tempo das cerejas, Frei Luís de Sousa, Pessoa Fausto, e co-autor de Catorze histórias incríveis ou o Fabuloso imaginário das lendas da Beira Baixa e Viagem a Itália.
ALMADA
Teatro Municipal Joaquim Benite . Galeria de Exposições
De 03 a 26 JUL |
Quinta a domingo |