Actos Complementares

O POMAR DAS ROMÃNZEIRAS
para Yvette Centeno

EXPOSIÇÃO DE HOMENAGEM
Concepção de José Manuel Castanheira

Nas conversas com Yvette Centeno fico mais nos silêncios do que na música das palavras.
Sinto que para dialogar com Y.C. seria melhor esboçar desenhos azuis a desvanecer.
Para este desafio de evocar Y.C. pensei num jardim oculto, num pequeno pátio acolhedor atapetado de palavras riscadas nas paredes e nos muros ou talvez apenas sussuradas entre as árvores.
Nesse jardim, a que vou chamar pomar, hão-de estar guardadas as romãs vermelhas que trago comigo desde o quintal de infância, ou as que muito absorvi da velha Istambul, cidade onde selei cumplicidade com Pamuk. As romãzeiras hão-de falar do Cântico dos Cânticos, do corpo da Sulamita e novamente de Orhan Pamuk nos Jardins da Memória.
Talvez porque Yvette Centeno possa simplesmente traduzir-se por “um inspirado mestre”, propositadamente assim em masculino, ampliando o sentido pleno de quem toda a vida ensinou, mestre de mil inspirações como a romã dos seus grãos-rubis.
Foi Alberto Pimenta quem me falou primeiro de Y.C. para mais tarde descobrir a enorme cumplicidade entre ambos. Ela própria escreveria a propósito de outro cúmplice, Herberto Helder, “já depois da Revolução de Abril, era com o Alberto Pimenta, outro poeta, um amigo de sempre, que se discutia o interesse da tão aguardada nova escrita: escassa e rara, fazia-se politiquice, não se lia, o mundo lá fora pouco ou nada existia e era assim que o poeta entristecia”.
Neste novo pomar, esperarei pela sua chegada. E à entrada, numa qualquer pedra filosofal estarão gravadas as suas palavras: “Chegaste / com a tua tesoura de jardineiro / e começaste a cortar: / umas folhas aqui e ali / uns ramos / que não doeram… / Eu estava desprevenida / quando arrancaste a raiz”.

José Manuel Castanheira

Yette Kace Centeno nasceu em Lisboa, em 1940. Concluiu a licenciatura em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e o doutoramento em Letras na Universidade Nova de Lisboa. A partir de 1986 tornou-se Professora Catedrática nesta instituição, nela fundando um centro de estudos dedicado ao Imaginário Literário. É autora de títulos de ficção, poesia, teatro, ensaio e literatura infanto-juvenil. Para a Companhia de Teatro de Almada, destacam-se, por exemplo, as suas traduções de Shakespeare

(Othello e Timão de Atenas), Lessing (Nathan, o sábio) e Brecht (A mãe e os poemas de Canções de Brecht). Foi nomeada Chevalier dans l’Ordre des Palmes Académiques em 1987, pelo governo francês, e condecorada pelo Presidente da República Federal da Alemanha com a Verdienstkreuz I. Klasse em 1994. Aposentada do ensino desde 2009, continua a colaborar regularmente com a Fundação Calouste Gulbenkian, e mantém o blogue de divulgação cultural Literatura e Arte.

 

ALMADA

ESCOLA D. ANTÓNIO DA COSTA – Átrio

De 04 a 18 JUL

das 15:00 às 24:00


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