Um gajo nunca mais é a mesma coisa
Texto e encenação de Rodrigo Francisco
ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve (Faro) | ESTREIA |
Intérpretes
Afonso de Portugal
João Farraia
Luís Vicente
Pedro Walter
Lara Mesquita
Cenografia
Céline Demars
Luz
Guilherme Frazão
Música
Afonso de Portugal
Som
Andreia Mendrico
Figurinos
Ana Paula Rocha
Montagem
Carlos Janeiro
Paulo Horta
Ivan Teixeira
Daniel Polho
Filipe Neves
Agradecimento
Exército Português
Agradecimento especial
Alexandre Pinheiro
Manuel Mendonça
José Vieira Casal
Língua
Português
Duração
90 min. (aprox.)
Classificação
M/16
Este espectáculo tem som de tiros, de helicópteros e luz estroboscópica
“Aminha mulher chorava por mim, porque um soldado não chora”: diz o protagonista, soldado à força, como os demais, numa guerra que foi sempre mais de outros do que de quem nela combatia. Em Um gajo nunca mais é a mesma coisa, o espectador encontrará um conflito bélico já bem distante, que nunca constituiu uma verdadeira memória colectiva, antes uma ferida aberta que se sente na carne, mas que ninguém quer ver, ninguém quer tratar. No evoluir deste espectáculo de teatro, convoca-se um cenário de guerra, onde estão soldados duplamente colocados ao abandono: abandonados, enquanto combatem, abandonados no estatuto de ex-combatentes.
Guerra colonial, colonialismo, o fantasma cada vez mais real da extrema-direita, o racismo, globalização e essencialmente a leitura de um passado à luz de um presente e o modo como estes se enfileiram na esteira de um futuro, são os vértices em que se move a peça. É um poliedro de pontos de vista, que se expõem no texto e na dramaturgia em palco; sempre oscilando entre um passado que se viveu (“se não estivermos cá quem contará a história?”) e um presente que o revive e, mais do que isso, o reconfigura. O protagonista, em palco, literalmente, é sempre duplo: o soldado na guerra e nos vários presentes por que passou, após o seu regresso à capital, sempre com a “guerra dentro do bolso.”
“Por conseguinte, por conseguinte”: é aos solavancos, com este bordão de linguagem repetido como um mote pela personagem principal, que se conta, rememora, remói, a história. No entanto, a narrativa da guerra colonial não é, nunca foi, feita nem de continuidade, nem de lógica causal interna, mas de saltos de perspectiva, em constante confronto e clivagem: a vivência dos ex-combatentes no passado; a memória desse passado e a sua presentificação permanente; a visão exterior da condenação subliminar, o olhar externo crítico, aqui, protagonizado pela personagem feminina, estrangeira, racializada, a realizar um pós doutoramento acerca do colonialismo e por isso tão longe das ambiguidades, não da guerra colonial em si, mas do soldado anónimo que a viveu sem escolha: “saímos heróis, regressamos facínoras”, diz o protagonista em dado momento, quando na verdade no teatro de guerra já nem heróis almejavam ser: “só queríamos voltar de lá vivos”.
Chegados ao fim do espectáculo, não é ao passado que o espectador se deixa aprisionar. Qual coro grego, escondido e lúcido, fixando o presente, interpretando-o, a pergunta é feita pela personagem feminina (mulher inglesa, de origem africana, tentando perceber de fora, num mundo globalizado, o colonialismo e dentro dele o caso português: “O que é que nós fizemos de mal, para termos agora esses fascistas todos de volta?”. A peça não dá respostas, mas a pergunta fica a ecoar, assim como o seu reverso, em cada um de nós: “o que fizemos de bem, afinal, neste processo todo?”. | Pedro Barros
Rodrigo Francisco, dramaturgo, encenador e director artístico da Companhia de Teatro de Almada e do Festival de Almada, fez a sua formação teatral com Joaquim Benite, de quem foi assistente de encenação.
EN Analysing it today, the Portuguese colonial war (1961-1974) looks fair to the African people fighting for self-determination, and unfair to those fighting to maintain an anachronistic colonial empire. This show gives voice to the Portuguese soldiers: boys who were sent to Africa to fight other boys. Although it is based on true accounts, it is fiction. Written and directed by the Festival de Almada artistic director.
ALMADA
Teatro Municipal Joaquim Benite . Sala Experimental
QUA 14 | QUI 15 | SEX 16 | SÁB 17 | DOM 18 |
20h30 | 20h30 | 20h30 | 18h00 | 18h00 |
QUA 21 | QUI 22 | SEX 23 | SÁB 24 | DOM 25 |
20h30 | 20h30 | 20h30 | 18h00 | 18h00 |