RUI MENDES
Nascido a 19 de Julho de 1937, é neto do actor Henrique de Albuquerque (1880-1942), que trabalhou na Companhia Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro. Estreou-se em 1956 no Teatro da Trindade – integrado no Teatro do Gerifalto, onde foi actor, cenógrafo e figurinista – com a peça A ilha do tesouro, a partir de R. L. Stevenson, encenada por António Manuel Couto Viana. Da sua longa e profícua carreira como actor constam muito para lá de uma centena de espectáculos de teatro, integrado em elencos do Teatro Monumental, Teatro ABC, Teatro Nacional Popular (de Francisco Ribeiro), Teatro Nacional D. Maria II, Teatro da Malaposta e Novo Grupo. Em 1961, abandonou o curso de Arquitectura que iniciara havia quatro anos, e participou no filme D. Roberto, de José Ernesto de Sousa. Em 1965, integrou o elenco de O render dos heróis, de José Cardoso Pires, para o Teatro Moderno de Lisboa, em cuja génese participara. Juntamente com João Lourenço, Morais e Castro e Irene Cruz, fundou em 1966 o Grupo 4 – Sociedade de Actores – ambos gestos seminais do que viria a ser o teatro independente em Portugal.
Marcou também presença em Pides na grelha, o primeiro espectáculo do Adóque – cooperativa de teatro de intervenção, herdeira do teatro de revista, fundada no pós-25 de Abril. Ultrapassadas sérias dificuldades, em 1976 o Grupo 4 inaugurou em Lisboa, na Praça de Espanha, o primeiro Teatro Aberto – cujo projecto de arquitectura elaborou, baseado num estudo do arquitecto e dramaturgo Augusto Sobral. A primeira peça em cartaz foi O círculo de giz caucasiano, de Bertolt Brecht. Estreou-se como encenador em Como o senhor Mokimpóte se libertou dos seus tormentos, de Peter Weiss, em 1975, vindo posteriormente a dirigir Três irmãs, de Tchecov – para o Teatro da Cornucópia, em 1988, na tradução que assinou
com Augusto Sobral; Sonho de uma noite de Verão, de Shakespeare, em 1991, e Tio Vânia, de Tchecov, em 1998 – ambas para o Teatro da Malaposta; ou ainda A louca de Chaillot, de Giraudoux, em 1995, e Menina Júlia, de Strinberg, em 2009 – ambas para o Teatro Nacional D. Maria II. No cinema, deixou o seu cunho em filmes como Francisca (1981, de Manoel de Oliveira) ou Os abismos da meia-noite (1984, de António de Macedo). Televisivamente, protagonizou em séries como Duarte e companhia (1985-89), e em telenovelas de sucesso como Chuva na areia (1984). Autor de textos para teatro, assinou O caso da mãozinha misteriosa, juntamente com José Carlos Ary dos Santos e Augusto Sobral (em 1978, para o Grupo 4) ou ainda O dia das mentiras, a partir de Falar verdade a mentir, de Almeida Garrett (em 2008, para o Teatro da Trindade). Recusou receber o Prémio para Melhor Actor de Teatro Musicado de 1971, atribuído pela SEIT (Secretaria de Estado de Informação e Turismo), ex-SNI, organismo público cuja função principal consistia em reprimir as actividades culturais passíveis de ameaçar o Regime. Entre as várias funções de relevo que assumiu fora dos palcos ou dos plateaux, destacam-se a de professor de interpretação na Escola Superior de Teatro e Cinema (docência e pedagogia a que se dedicou durante vinte anos) e a de presidente da Assembleia Geral do Sindicato dos Trabalhadores do Espectáculo.
Esta homenagem reconhece o seu inestimável contributo para o desenvolvimento de uma nova forma de estar no teatro, no cinema e na televisão. Uma participação desde sempre marcada por uma forte motivação cívica, o que faz de Rui Mendes um dos mais significativos servidores públicos das artes de palco em Portugal.