CARLOS AVILEZ
no palco do talento intemporal

Carlos Avilez é uma das figuras mais marcantes e sempre inovadoras da vida teatral portuguesa, tendo feito do Teatro Experimental de Cascais, fundado em Novembro de 1965, uma referência permanente de um longo empenho na construção da modernidade e de uma dramaturgia que nos permitisse ombrear com as de outros países que não estavam sujeitos ao apertado crivo da censura.
Começou o seu longo percurso como actor, em 1956, na Companhia de Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro, de que se desligou em 1963.
A criação do Teatro Experimental de Cascais no Teatro Gil V icente em Cascais foi um marco decisivo na sua carreira e na construção de uma estética que viria a prestigiá-lo entre os dramaturgos portugueses e a dar-lhe uma visibilidade cultural que transcenderia o belo teatro italiano localizado na zona velha de Cascais.
Em 1970 dirigiu a delegação cultural portuguesa que participou na cidade de Osaka no âmbito da Expo 70 no Japão.
Ainda me recordo de ver, no palco do Gil V icente, Carlos Paredes a tocar ao vivo no espectáculo de estreia da companhia. São imagens e memórias que o tempo não se atreve sequer a tentar apagar. Recordo-me também da actriz Mirita Casimiro, que viria a dar nome à segunda sala do TEC, no Monte Estoril.
Falo do Carlos Avilez que conheço há muitos anos e de quem tive o privilégio de me tornar amigo, renovando sempre a afirmação da admiração que tenho pelo seu trabalho, pelo seu rigor e pela sua sempre renovada capacidade de engrandecer e dignificar a própria cultura em Portugal.
Foi actor, compositor e intérprete no espectáculo Breve Sumário da História de Deus, de Gil V icente, que encenou no Teatro Experimental de Cascais, com uma excepcional cenografia de José Rodrigues. Nesse espectáculo contou com alguns dos maiores do teatro português do século XX.

No mesmo espectáculo integrou a sua encenação da peça de teatro Nô contemporâneo Sotoba Komachi, do japonês Yukio Mishima.
Na sua perene carreira foi director do Teatro Nacional D. Maria II, função que acumulou, com reconhecido esforço, com a direcção do TEC. Foi agraciado em Junho de 1995 com a Ordem do Infante D. Henrique.
Em 2016 recebeu no final da gala anual da SPA o Prémio V ida e Obra, suprema forma de reconhecimento dos autores portugueses pelo seu trabalho excepcional e brilhante.
Tive o privilégio de ver textos meus subirem à cena no TEC com encenação sua, motivo de honra e de reforçada responsabilidade para quem escreve teatro. O mais recente foi Ninguém É Garrett, no espaço do Museu dos Condes de Castro Guimarães, em Cascais.
Enquanto fui vereador da Cultura da Câmara de Cascais (1994-2002) tive um contacto reforçado e estimulante com Carlos Avilez, cujo combate pela preservação da companhia sempre testemunhei com admiração e profundo apreço.
Falar de Carlos Avilez, no quadro desta merecidíssima homenagem, que aplaudo e muito louvo, é também celebrar a sua inteligência, o seu excepcional bom gosto, o seu apurado e sempre exigente sentido da modernidade, a sua coragem de arriscar e de apostar no talento de quem merece ter oportunidade de construir carreira e de abrir novos caminhos.
De Carlos Avilez guardo e guardarei sempre a memória da elegância e da sensibilidade e ainda da disponibilidade que lhe permite apoiar aqueles em quem acredita.
Carlos Avilez é um símbolo do Portugal que cria, inventa, transforma e constrói, ocupando um lugar que merece a vénia longa e sentida de quem o sabe insubstituível. Bravo, Carlos Avilez!

Maio de 2019 José Jorge Letria
Autor, amigo e presidente
da Sociedade Portuguesa de Autores

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