Um sonho de Federico García Lorca em Lisboa
Instalação de José Manuel Castanheira
“Atrás da cortina podemos ver o estado do mundo”, era o que dizia um cartaz que pela manhã apareceu colado numa das paredes da praça. No sítio agitaram-se as memórias e cresceu a expectativa. Descendentes de uma ‘farândola ambulante’ do imaginário, eram os comediantes que aterravam à beira da estrada e, com cinco varas, três cortinas e cadeiras, improvisaram o que chamavam Teatro. A noite, tenuamente iluminada, acolhia todas as ilusões, e na manhã seguinte a trupe prosseguia viagem.
Tudo parecia emanar do sonho de Lorca e Ugarte, onde a mítica camioneta conduzida por Aurelio era La Bella Aurelia. Impulsionados pela ideia, a Céu Guerra, o Mário Alberto, e mais tarde o Hélder Costa, herdaram o nome da trupe, ‘La Barraca’, e puseram-se a cavalgar o tempo. Na nuvem de onde vinham havia uma vontade de festa e de fusão entre actores e espectadores. Trocaram Cervantes ou Calderón pelas palavras de Dario Fo, Boal, Brecht, Gil Vicente, Molière, Mrozeck, Ionesco, Scola… e com elas ensaiaram diagnósticos do mundo imediato, propondo outras visões, possibilidades ou perspectivas.
Numa insigne persistência, a simbólica camioneta prosseguiu viagem. Em sucessivas paragens semearam uma floresta de vultos e acontecimentos. Lugar onde descortinamos a metamorfose do sonho de Lorca em Lisboa.
José Manuel Castanheira
No ano em que se celebra o cinquentenário do 25 de Abril de 1974, o Festival de Almada homenageia um dos grupos fundadores do ‘teatro independente’ português, que no último quartel do século XX chamaram a si o desenvolvimento do teatro profissional no nosso País. A Barraca foi fundada em 1976, com a peça A cidade dourada, iniciando um percurso fortemente marcado pela busca de um teatro iminentemente popular. O grupo apostou desde cedo na itinerância nacional e internacional, visitando países na Europa, África, Ásia, e América do Norte e do Sul.
Das várias distinções que recebeu, destaca-se o prémio UNESCO da Expo Sevilha 92, para melhor actriz, atribuído a Maria do Céu Guerra no espectáculo O pranto de Maria Parda, de Gil Vicente. A Barraca foi também premiada pelo Festival de Sitges, pelo Festival de Bogotá, e pelo Instituto Internacional de Teatro, em Santiago do Chile.
Privilegiando a dramaturgia portuguesa, esta companhia definiu-se desde cedo como “um grupo que é testemunho e parte activa do seu país e da sua época”. No entanto, o reportório internacional, tanto clássico como contemporâneo, tem sido igualmente um esteio no seu percurso. Para além de ter estreado em absoluto em Portugal autores como Dario Fo, Mrozeck e Augusto Boal, a Barraca tem levado à cena peças de Molière, Sófocles, Brecht, Fassbinder, Woody Allen, Roland Topor, Ben Hecht, Gogol, Tennessee Williams, Bernard Shaw, entre muitos outros dramaturgos.
ALMADA
Escola D. António da Costa • Átrio
04 a 18 JUL |
das 18:00 às 24:00 |