Quando passam cinco décadas sobre a Revolução que nos trouxe a liberdade de expressão, debruçamo-nos sobre os limites hodiernos dessa mesma conquista. Convidamos pensadores e artistas de diferentes áreas e gerações para, parafraseando Salgueiro Maia, olharmos para ‘o estado em que estamos’ no que diz respeito à criação. Qual o papel da ideologia naquilo que hoje fazem os artistas? E o da identidade? Será que a arte é passível de ser ‘útil’, e que os espectadores de hoje esperam ainda aceder a uma ‘mensagem’ quando se sentam numa plateia, abrem um livro, ou visitam uma galeria?
Atendendo ao contexto digital, volátil — e não poucas vezes incendiário — em que vivemos, até que ponto os criadores são ainda livres, tal como passaram a ser há cinquenta anos? Será que existem mesmo, hoje em dia, novas formas de censura? E que alguém passou a vigiar — por detrás de que biombos? — aquilo que é legítimo ser escrito, exibido e levado à cena?
Uma luz em tinta preta
A arte nunca é plena liberdade. Sim, o criador inventa por sua escolha e decisão da vontade. Mas num território limitado: o vocabulário, a tela, os sons, o palco. E tão-só enquanto a criatividade persistir. Há criadores que libertam a sua luz a vida inteira e brilham muito além da morte; a outros a luz chega num impulso, afirma-se uma única vez, ou poucas vezes, e desiste para sempre.
A arte não é normativa. Toda a normalização da arte é antagonista da criatividade, por definição aventura inovadora, transformadora, revolucionária do espírito humano. Prescrever o que ela deve ser, ou impor como se deve manifestar, é um despropósito de mentes subalternas. A luz da imaginação poética rejeita os predicadores sectários, mesmo trajados com os figurinos das boas intenções.
À arte que quer libertar o mundo importa libertar-se ela própria: olhar o próprio papel e libertar a sua luz da tinta preta.
Jorge Vaz de Carvalho
Painel I
Filipa Oliveira (curadora)
Maria Rueff (actriz)
Sérgio Sousa Pinto (deputado e presidente da comissão dos negócios estrangeiros)
Painel II
Henrique Raposo (escritor)
Raquel Freire (realizadora)
Margarida Vale de Gato (tradutora)
CAPARICA
Convento dos Capuchos
Sáb. 06 JUL |
15h00 |